Dancing on the kitchen tiles

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Trechos esquisitos

"This is my journal, it is full of sepia memoirs, do not look inside cause you may find, my world, my own world lost in time. People came and so they had gone away, are you sure you wanna stay?"

"Everything here looks unreal,
my heart sank in disappointment
lost friends and so.
lose friends to row
don't lose me in your way back home."

"sing along, even if there is no music. dance along, even if there is no rhythm. move along, even if you have no reason at all."

"i want the sunlight over my head, and i want it now.. now that i just can't stop defeating, i can't stop breathing and i can't get enough"

Não estou com vontade de postar coisas com sentido.
Agradeço desde já a compreensão.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sabe...

Sabe quando, sem perceber, você já está envolvido na ladainha? Quando, ao ver pela primeira vez, aquilo que era apenas uma pequena atração, coisa de admiração, se transforma em algo que te move. Todos os teus atos, tuas influências, tudo. Quando tudo em ti, de uma maneira ou de outra, te relaciona ao outro. Quando tu não podes viver sem ver apenas o rosto, nem que seja de longe, nem que seja virtual, inanimadamente.
Sabe quando, mesmo sem saber, te faz entrar cada vez mais nesse redemoinho, cair no precipício. Cada conversa, cada gesto de simpatia velada. A cada manobra tu te fazes mais refém.
Então sabe, sem querer mais prolongues, quando tu percebes, e que é algo que devias ter percebido antes, que nunca lhe foi retribuída a afeição. Quando, sem querer, tu percebes que nesse seqüestro, tu és a refém e o seqüestrador. Ninguém nunca quis pagar o resgate.
Nesse exato instante, não se sabe mais o que fazer, se vais te manter cativa para sempre ou se é só paixão, passageira, traiçoeira. Quando decides, finalmente, que não é nada, que nunca foi. Lá vem de novo, trazendo tudo que esquecera. Revolvendo tudo que te entristecera. Traz-te esperança, novamente. Todo aquele blá-blá-blá de não-te-quero-nunca-te-quis, isso nunca existiu, tudo fruto da tua imaginação. Na crua e nua realidade, nada nunca aconteceu, nem o rechaço, nem a reciprocidade. Aí, tu cais na real, nada é como é e se tem que contentar com o que é, mesmo não sendo nada. Tu voltas à tua vida cotidiana e ao marasmo novamente. Depois desse momento de luz, de razão, sem pensar, novamente, tu estás lá, escravo de algo inexistente. Tu nunca falaste, e nem vai falar, é melhor, pra não se machucar. E sabe, se pensar bem, o que tem de novo? Platão já disse. Poetas já sintetizaram e psicólogos já deram o veredicto. É amor platônico, e o que tem de mais? Nada, esse é o problema.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O além, Requiem, whatever.

Não pensara nisso, nem por um momento. Em toda sua vida, vivera todos os dias não como se fossem os últimos e sim, os primeiros, com muito a aproveitar e sem tempo para desperdiçar. Alguns o reprovavam, mas sentia-se bem, tinha amigos leais, e se divertia, de maneira incessante, não como se achasse que o mundo acabaria amanhã, mas sim, como se lhe tivesse sido concedido o dom de aproveitar esta nova vida nesse mundo novo. Nunca pensara na morte.
- Então, é isso?
- É, basicamente. Desapontado?
Um breu sem fim o envolvera, tomou de susto quando ouviu uma voz lhe falar, não uma voz grave, retumbante, como todos imaginam ser a voz Dele, mas sim, uma voz aguda, leve e tranqüila. Não se sentiu mal, desconfortável, mas triste. Sim, triste. Não enxergava nada, nem um palmo á frente. Não se podia descrever como desapontamento, porque nunca havia tido expectativas quanto à morte, era vivo demais para cogitar a morte.
- E por que está tudo escuro?
- Ah, claro. Desculpe-me, esqueci.
Em um clique, tudo se iluminou. Não lhe adiantou de muito, não havia nada na sala.
- Esqueci de ligar a luz. Gosto de ficar meio blasé, pensando na eternidade (porque pensar na vida está um pouco ultrapassado), espero que não se importe.
Cândido percebeu então que falava com uma mulher, ou pelo menos era o que pensava. Deus era uma mulher? Nossa, então as teorias de sua patroa estavam certas, devia ter lhe dado ouvidos.
- E não posso ver os vivos? Gostaria de vê-los. Meus amigos, minha família.
- Já sei, você quer ver como eles estão sem você, não é?
- Não, te juro.
- Tudo bem, eu faço isso às vezes, mas vou lhe dar uma dica, não o faça, só vai se deprimir ainda mais. A morte pode ser bastante melancólica, sabe.
Confusão se misturou com perplexidade. Deus era mulher. E já havia vivido na terra. Algo estava errado.
- Não, não quero ver como se saem sem mim. Só quero vê-los. Saudade
- Tudo bem, pode ir. Mas não diga que não avisei.
Antes de ir, precisava saciar a dúvida.
- Mais uma pergunta, você é Ele?
- Que ótimo! Para começo de conversa, não sou Ele, e aprenda a definir gêneros, certo? Assim você me ofende. Mas não, não sou. Sou confundida com ele constantemente. Deus não gosta muito de contato com os humanos, já se saturou. Atualmente, vive de barriga pro ar assistindo pornôs-chanchadas e comendo pão-de-ló. Pra lhe ser sincera, está indo de mal a pior.
- Então porque você está aqui?
- Não sei lhe dizer, na verdade. O fato é que sempre estou por perto quando um de vocês aparece.
- Um de nós?
- É, pessoas que amaram a vida e não se arrependem de nada que fizeram.
- É você, é uma?
- Não, na realidade. Acredito que tenham me deixado por aqui só pra deprimir os novos que vem, assim como você, que querem continuar vigiando o mundo. Esqueça, rapaz!
- E se eu quiser ir? E se por acaso eu não quiser esquecer? Você irá me impedir?
- Vou te contar uma verdade, pode doer, eu sei, doeu pra mim. Ninguém aqui lhes dá importância. Honestamente? Vocês vêm aos montes, não faz diferença pra nós.
Aos poucos, formas foram surgindo, pessoas caminhando desordenadamente, usando roupas normais. Não vira anjos. Ninguém. Só pessoas transitando, de um lado pro outro, sem cessar.
- E por que não vejo animais por aqui? Se não somos tão importantes, por que só nós estamos aqui, perto do céu?
- Por que vocês são os únicos que se importam. Pensa que os animais vivem a vida criando teorias de como deve ser a vida após a morte? Não. Coisa de humanos.
- O que você está dizendo? Você é uma humana também.
- É diferente.
- Diferente, como?
- Não sei, só posso dizer que, obviamente, não vivo mais. Talvez eu seja só um fruto da tua imaginação.
- E é?
- Talvez.
Cândido passou a observar os passantes, deu-se conta de que, de uma maneira ou de outra, conhecia todos eles. O padeiro do fim da rua, lembrou do cheiro de pão novo que descia até a janela do seu quintal todas as tardes. Não sabia que ele havia morrido, não lhe ocorria nada. Viu seus antigos colegas de classe, familiares diversos, antigos amores.
- Clarice?
Ela vinha em sua direção, sorria. Cândido não conseguia raciocinar, sua mulher! Então ela havia morrido junto? Como? Tentou se aproximar, mas não conseguia, algo o puxava para trás. Enlouqueceria, era certo. Não podia estar acontecendo.
- Minha mulher morreu?
- E eu lá vou saber? Cada um que me aparece.
- Ela está aqui! Não me diga que não vês!
- Na realidade, não.
- Como?
- Não, não vejo. Tem certeza que a vê?
- Sim, absoluta.
Todos pararam de súbito. Todos sorriram para Cândido, vieram em sua direção, pareciam reconhecê-lo. Quando começou a falar-lhes, todos se viraram de costas e se foram. Não sabia o que fazer, deparou-se com a entidade à sua frente e deu um profundo suspiro.
- É assim? O Paraíso é ter flashes de memórias de uma vida vivida e nada mais, tem algo mais a fazer aqui?
- Você não entende, não é?
- E o que eu deveria entender?
- Você é vivo demais para morrer, não é? Desapegue-se, curta a eternidade.
Num repente, as formas conhecidas voltaram, sentaram-se ao seu lado e fitaram-no serenamente. Quando abriu a boca para falar-lhes, sumiram, todos, como em um truque de Houdini.
- Pois não quero mais vê-los, não quero mais que venham, se já logo vão embora.
- Exato.
Tudo escureceu novamente. Breu. Total. Cândido sentiu-se bem.
- E agora?
- E agora o quê?
- O que fazemos agora?
- Nada.
- Vai ser assim, por toda a eternidade?
- Basicamente. Desapontado?


(fiz meio que nas coxas, relevem)