Dancing on the kitchen tiles

terça-feira, 31 de março de 2009

Daughters

Pais, sejam bons com suas filhas. Pois as filhas são filhas e filhas terão. Pais, aceitem seus problemas, aceitem seus defeitos. Afinal, filhas são o seu quadro mais bonito, mas aquele que se desenvolve por conta própria, que foge da mão e da vontade do artista. Deixem que tenham cores, quantas quiserem ter. Afinal, a tinta é sua, a tela é sua. Pais, que deram o Canvas, deixem que a pintura se renove e ande sozinha. Deixem que a imagem saia do retrato, que saia caminhando por aí. Mas pais, todos os pais, não se esqueçam, sejam bons. Sejam bons, e amem com imenso amor. Pois as filhas vão amar como vocês. Mostrem o mundo e todas as suas possibilidades, abram os olhos, mostrem as diferenças. Expliquem que o mundo é colorido, branco, negro, azul. E o mais importante, ensinem que o importante é isso, colorido por dentro, por fora. Multicolor, ensinem suas filhas então. E elas serão coloridas e vão colorir o mundo descolorido de alguém. Elas serão boas como vocês foram, e amarão com imenso amor quem as ama também. Pais, ensinem suas filhas a amar a vida, sejam amantes dos sentidos. Experimentem, sejam pais e acima de tudo, sejam amigos, sejam amantes, sejam vibrantes, sejam cor, sejam brilhantes. Ensinem a ver a beleza em qualquer alguém, em qualquer vida. Sejam, antes, fascinantes. Se descobrirem que não o são, sejam coloridos, ou incolores, como são. As filhas vão amá-los de qualquer maneira, sejam vocês cinzas, nulos, roxos, amarelos. Só, por favor, tenham cor, qualquer cor. Muita cor, furta-cor. Mostrem arte, a sua arte. Sejam arte viva e vivam cor. Sejam cor viva e vivam arte. Enfim, vivam. Com cor, ou não. Suas filhas coloridas serão, quer vocês queiram, ou não.

"So fathers be good to your daughters, cause daughters will love like you do..."

domingo, 29 de março de 2009

desfeito desabafo malfeito

Preciso tocar, preciso ver, preciso ver se você é real, animado, vivo. Vê-lo bem de perto, admirar os infinitos detalhes de você. Preciso observar as nuances da sua pele. Preciso mergulhar nos teus olhos, ver se consigo ler neles um épico, um conto, um poema. Quero te ver sorrir, bem de perto, e quero ser o motivo de um sorriso. É pedir demais, eu sei. Te abraçar, sentir tua boca, sentir o aroma. Preciso ouvir tua voz, preciso. E tenho medo. Medo de não ser eu tudo o que imaginava, medo de que eu não seja a realidade esperada. Medo de mim. Nos meus olhos só o que se lê são pensamentos soltos, e nos seus há tanta poesia...
Tenho medo de não ser eu como sou. Quando te ver, receio não conseguir disfarçar. Mas sempre acabo assim, esperando. Espero o tempo que for, paciente. Ignoro os demais. Preciso de você, real, humano, errado, e aqui. E preciso agora. Mas antes, preciso me livrar desse vazio, me libertar dessa ilusão. Ei! Coração? Faça me o favor!? Pode ser agora?



estou zerada, deu pra perceber.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Finalmente me tornei um mortal.

Começo essa história breve e triste pelo começo. Obviamente.
Não prometo muito dessas linhas, nunca fui bom em contar histórias. Minto, era bom sim, mas em inventá-las. Contar verdades não é, nunca foi, o meu forte. Mas deixemos de enrolação. Te confesso que muito me dói lembrar essa história. Mas entenda, preciso desabafar. Logo, o que lerá aqui é um tanto inédito, sinta-se honrado, ou não.
Eis o que eu era: um boêmio, solto na vida, com toda a mordomia. Meus pais não me recusavam nada. Não sei se era uma compensação pela pouca atenção que me tinham oferecido. Não sei se era pela frieza com que às vezes me tratavam. Era como se quisessem se redimir, todos os dias, como se não bastasse tudo o que já faziam. Pais são sempre assim, não? Se brigamos, esquecemos, porque amamos. Mas eles, às vezes, parecem estar sempre tentando remendar alguma ferida de que nós nem mesmo lembramos. Pronto, lá estavam eles. Me defendiam a qualquer custo, sem nem pensar em duvidar de mim. Não que eu os culpe, longe disso, mas me parece que muito do que fiz foi devido ao tratamento que me foi dado.
E era eu, jovem, bonito e inteligente. Com tudo o que eu queria, ao meu alcance. Um dia, vi um colega de quem não gostava andando sozinho na rua, à noite. Não que fosse adepto da violência, mas resolvi dar-lhe uma lição. Entenda, ele não me respeitava como eu queria ser respeitado. Quando me via andando pelo corredor, não se sentia intimidado pela minha presença. Um perfeito idiota, em resumo. Pois bem, fui até ele, ensinei-lhe algumas coisas. E a partir dali, nunca mais vi o infeliz. Nada que ele fizesse poderia me atingir. Obviamente, contei a vantagem. E se houvesse alguém que sequer cogitasse de me confrontar, ou ignorar, esse alguém nunca o fez.
Então, quando peguei meu carro, senti que o mundo era meu. Sabe quando se sente que nada poderá detê-lo? A velocidade era o meu maior vício. Passava ao lado dos comuns e medíocres, vivendo suas vidinhas miseráveis e sem graça, mas não me contentava em ultrapassá-los, gostava de dar uns sustos. Gostava de sair acelerando, 80, 100, 120, 140... Sentir o vento no rosto, quase como se estivesse voando. Ali, me sentia mais imortal do que nunca. É bem verdade que uma vez, em uma de minhas corridas, atingi um senhor que atravessava, mas fui esperto o bastante pra fugir a tempo. Não sei o que lhe aconteceu, mas, sinceramente, não me era de muita importância. Me diga por que o cidadão atravessava a rua, vendo que eu me aproximava? Não lhe disseram que o certo é olhar para os dois lados antes de atravessar a rua? Honestamente, eu não entendia. Sempre tive nojo de pedestres. Gente inútil, gente comum.
Não vou mentir aqui. Bati o carro diversas vezes. Mas sempre ganhava um novo, como consolação. Saía das festas tão frequentes sempre um pouco ébrio, é verdade. Mas eu era imortal, invencível. Pois bem, como eu nunca poderia imaginar, eu não era imortal, nem um pouco. Pense em um dia chuvoso, um passeio em alta velocidade, certa dose de Etanol. Me sentia como um herói, aquela chuva batendo, um obstáculo a mais para a minha corrida, meu caminho de ser invencível. Via os passantes cautelosos, acelerava e, ao atravessar uma poça d’água, os encharcava. Achava o máximo aquilo, mais uma prova do quão invencível eu era. Mas bastou um momento, uma distração, uma combinação de fatores, e cá estou. Primeiro só o que ouvi foi um baque, só o que vi foi um branco infinito. Sentia dores, ouvia vozes, mas não conseguia discerni-las. Parecia que aquele inferno disfarçado de paraíso não acabava nunca. Às vezes sentia como se estivesse me afastando do branco, me afastando das vozes. Mas voltava ao mesmo lugar, com o meu sangue pulsando e equalizando a minha dor. Parecia uma eternidade, aquilo tudo. Mas era imortal, tão imortal. Estava no Olimpo, um pouco dolorido, mas quem me garantia que aquilo não era a morada dos deuses, dos imortais? Essas minhas alucinações me anestesiaram. Até que acordei. Vi vários rostos preocupados me observando, que se transformaram em sorrisos, e senti um calor imenso de abraços infinitos. Viu? Tudo estava bem. Comigo tudo acabava bem. É certo que a dor perdurava, mas era pouco perto da felicidade que eu sentia. Um Imortal, como eu mais uma vez provava ser. Estava tão feliz e, provavelmente, há tanto tempo sentado, que nem sentia minhas pernas.
Alguns dias mais tarde, ao tentar me levantar, caí. Uma sensação estranha, como se algo tivesse falhado. A enfermeira veio correndo em minha direção, com uma expressão no olhar que era um misto de pena e preocupação. Recusei a sua ajuda. Disse que minhas pernas estavam dormentes e que era só questão de tempo para me acostumar. Mas ela agarrou meu braço com mais força e não soltou. Então, a verdade me atingiu em cheio. Tudo ao meu redor desabou. Não conseguia dar um passo a frente. A enfermeira me levou até a cama e só então percebi a cadeira de rodas postada ao lado da janela. Eu, imortal. Provei que era imortal. Mas finalmente me tornei um mortal. Preso, vulnerável. Eu, que pouco temia a morte, agora temia a vida. Eu, viciado em velocidade, fui rápido demais. Fui além de mim, além do que podia suportar. Eu, que Zeus me sentia, meu calcanhar de Aquiles me ferira. Fui Imortal, sou mortal. Vivo meio, metade. Sou meio imortal. Meio mortal. Meio humano, meio metade.


merece um O.o

sábado, 7 de março de 2009

Me and Mr. Jones

Ah, meu caro Jones. Lembro dele ao olhar um retrato, lembro dele quando sinto cheiro o cheiro da chuva, o cheiro de pão. Não éramos um casal bonito, com certeza não. Nem ele era tão obviamente belo. Mas a mim era. Talvez sua beleza residisse nos seus gestos, no seu toque, no seu sorriso talvez. Ah, eu adorava aquele meio-sorriso natural. Adorava bagunçar seu cabelo, seu cabelo bagunçado. Amava o cheiro de roupa nova e perfume masculino que ele exalava. Cheiro de gente? Pouco, seu cheiro não parecia muito humano. Mr. Jones era assim, humano nos gestos e na aparência, mas cheirava a elegância, sisudez. Mr. Jones nunca sabia o que queria, eu não me importava muito. Mr. Jones às vezes se fechava no quarto para rabiscar alguma idéia. Não se achava muito erudito, mas suas palavras pareciam arte barroca. E eu, tão pouco entendida, achava tudo bonito, tudo que ele escrevia... Não precisava entender para apreciar. Pareciam música, suas palavras. Sentia vontade de dançar ao som delas, mas me contive. Ah, eu amava aquele tempo. Fazer um pão quentinho pela manhã, às vezes brioches. Rir das minhas comidas desastradas. Sentar num café em fins de tarde, para um brunch, esticar a conversa um pouco mais. Caminhar pelas ruas da cidade, pelas casas coloridas, sobre o pavimento irregular. A chuva sempre nos pegava desprevenidos. Mas era tão bom. Ficar ensopado com chuva de verão. Chegar em casa depois, tomar um banho quente e ficar debaixo do edredom. Aí, acordei. Tinha chegado ao fim do caminho. O cobrador cutucava meu ombro levemente. Quando desci, vi Mr. Jones passar. Olhando para o chão, pensando no seu próximo poema. Me cumprimentou com o olhar, de longe, e seguiu caminho. Ah, Mr. Jones. Ele nem imagina...