Dancing on the kitchen tiles

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Sabe...

Sabe quando, sem perceber, você já está envolvido na ladainha? Quando, ao ver pela primeira vez, aquilo que era apenas uma pequena atração, coisa de admiração, se transforma em algo que te move. Todos os teus atos, tuas influências, tudo. Quando tudo em ti, de uma maneira ou de outra, te relaciona ao outro. Quando tu não podes viver sem ver apenas o rosto, nem que seja de longe, nem que seja virtual, inanimadamente.
Sabe quando, mesmo sem saber, te faz entrar cada vez mais nesse redemoinho, cair no precipício. Cada conversa, cada gesto de simpatia velada. A cada manobra tu te fazes mais refém.
Então sabe, sem querer mais prolongues, quando tu percebes, e que é algo que devias ter percebido antes, que nunca lhe foi retribuída a afeição. Quando, sem querer, tu percebes que nesse seqüestro, tu és a refém e o seqüestrador. Ninguém nunca quis pagar o resgate.
Nesse exato instante, não se sabe mais o que fazer, se vais te manter cativa para sempre ou se é só paixão, passageira, traiçoeira. Quando decides, finalmente, que não é nada, que nunca foi. Lá vem de novo, trazendo tudo que esquecera. Revolvendo tudo que te entristecera. Traz-te esperança, novamente. Todo aquele blá-blá-blá de não-te-quero-nunca-te-quis, isso nunca existiu, tudo fruto da tua imaginação. Na crua e nua realidade, nada nunca aconteceu, nem o rechaço, nem a reciprocidade. Aí, tu cais na real, nada é como é e se tem que contentar com o que é, mesmo não sendo nada. Tu voltas à tua vida cotidiana e ao marasmo novamente. Depois desse momento de luz, de razão, sem pensar, novamente, tu estás lá, escravo de algo inexistente. Tu nunca falaste, e nem vai falar, é melhor, pra não se machucar. E sabe, se pensar bem, o que tem de novo? Platão já disse. Poetas já sintetizaram e psicólogos já deram o veredicto. É amor platônico, e o que tem de mais? Nada, esse é o problema.

1 Comentários:

Blogger Marina disse...

Ah, o meu maior amor platônico é por textos bem escritos. Eles me deslum-bram! São sentimentos agradáveis que correm pelo meu corpo quando os leio, uma nostalgia boa de uma experiência não vivida. Eu me perco no meio de suas letras, pontos, significados. Queria saber criá-las para outros também se perde-rem, saber encantar como me encantam, exprimir delas seus sentidos, combinar elas de um modo deleitoso,... Uma vez na vida, só uma, queria que eles corres-pondessem e que eu fosse agraciada com essa habilidade, nem que fosse um respingo só. Eu queria viver um romance lírico, ser amante das letras, me entregar por inteira a elas, ser sua amiga mais fiel!
Ventura daquele que tem essa habilidade de cativar os outros com um simples jogo de palavras! Ventura tua!
Belo texto.

4 de novembro de 2008 às 15:45  

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