Era um tanto apaixonado pela docência, e aquilo me parecia estranho, para dizer a verdade. Abandonar uma carreira de sucesso para viver confinado em uma sala de aula, fornecendo o seu conhecimento a um bando de crianças que não tinha o mínimo interesse em absorvê-lo.
Todos o achavam dócil e inofensivo, porque a paciência era sua maior virtude. Por isso, exageravam nas provocações, na rebeldia, para ver no que ia dar, testá-lo até vê-lo perder a paciência, que ele sempre mantinha, apesar de tudo. Mas havia algo que só eu conseguia enxergar. Os músculos tolhidos de atleta por vezes se tensionavam ao ouvir uma resposta mais ousada, e eu sentia que a violência contida estava prestes a aflorar. Temia que ele fosse perder o controle e proferir um golpe contra algum de nós.
Um dia, quando um de nós lhe faltou com o respeito, mais do que o habitual, senti a tensão crescer, vi os tendões se tensionando e, numa grande confusão, em meio a gritos, vi o professor massacrando o pequeno rebelde. Sentou em sua cabeça, e a criança berrava de dor, gritava, e ninguém fazia nada. Não agüentei, e soltei um grito de desespero. Quando parei de gritar, vi que todos olhavam para mim. Foi então que pude ver com clareza, o professor ainda estava em sua posição inicial, com a cabeça de meu colega bem longe do seu alcance. O professor olhou para mim, tranqüilo, com os músculos e tendões bem relaxados, e sorriu.
(nem vou me dignar a postar coisas decentes, dica)