Dancing on the kitchen tiles

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Ele e ela

"And this is the wonder that is keeping the stars apart, I carry your heart (I carry it in my heart)"
ee cummings


Ele era apenas um homem. Ela? Apenas uma mulher. Não, não era tão simples assim. Não era apenas uma história de amor, dessas de livros, de romance-mulherzinha, para se derreter e sonhar com o príncipe encantado, ou com aquela princesa linda, louca, delicada, deusa, virginal. Envolvia amor, era certo. Ou não tão certo assim. Seria paixão? Nunca se perguntaram, os dois. Um arco-íris de cores e sabores. A cada dia acordar com o friozinho na barriga, o que será que vai acontecer hoje? Vai haver surpresa? Ou será só a velha rotina? Não sabiam. Mas mesmo a rotina era excitante. Viviam dias melhores, aqueles tão requeridos em letras de canções. Não sabiam o que os esperava. Andavam de mãos dadas no shopping, sem se preocupar com o que significava aquele gesto. Iam à feira, às vezes... ou saiam para jantar, ou ficavam embaixo do edredom tomando alguma coisa quente, um chá, talvez, ou algo mais erótico, rindo e falando bobagens. Viviam felizes, sem nem cogitar o amanhã. Romeu e Julieta não eram, mas estavam dispostos a um sacrifício, para serem felizes, talvez. Não assumiam um compromisso, uma aliança, um papel assinado, uma promessa ou uma obrigação, viviam felizes assim, na incerteza total, sem saber do final. Um dia a sociedade se impôs, injetou o veneno, como uma cobra, e se ele fosse um pouco mais constante, teria encontrado a cura para ela, o veneno anti-ofídico.
- E essa história, pra onde vai?
- Não sei
E pensava, pensava, não chegava a nenhuma conclusão. Sua imunidade baixou, ficou vulnerável às agruras normais de uma mulher apaixonada, passou os dias seguintes pensando, refletindo. Por que ele não ligara? Aonde estaria agora? Por que ele não mudou o status do orkut? Por que ele nunca dizia nada,? Nunca oficializava nada. Faltava burocracia na relação, e isso não podia ficar assim! Ele a chamava de Honey babe, e ela não entendia. O que lhe custava de vez em quando dar um passo à frente? Dizer aonde ele queria chegar com tudo aquilo.
- Discutir relação? De onde você tirou isso?
E lá vinha a mágoa outra vez. Insensível! Cafajeste! Já devia estar com outra! Ou de certo ela era a outra, e ele já havia se cansado dos romancezinhos bucólicos. Tudo que era belo se transformou em mágoa, e corroeu. Mas ele era um romântico, dos mais primitivos. Nunca poderia ter alimentado essa doença, lhe diziam as amigas. Ela começou a pensar o quanto era infeliz, o quanto havia desperdiçado seu tempo com aquele imbecil. Fim de tudo, ela pensou. E ia na direção de seu destino, dizer a ele, estava tudo acabado. No fim da rua estava ele, esperando no carro, cansado do trabalho, só queria um banho e talvez o aconchego e o cheirinho dela. Pensava nisso, todos os dias, pelo final da tarde. Em um tom seco, rude e desajeitado ela se despediu, nunca mais queria vê-lo. E os bons momentos, querida?
Dos bons momentos não lembrava de nenhum, se foi, chorando, porque amava ele, e nunca tinha percebido isso antes. Teve ímpeto de voltar, mas enxergou a sombra do carro se aproximando.
- Só quero que você não me esqueça, e volte para casa. Lembre-se de olhar por onde pisa, e em quem pisa.
E ele acelerou. Para nunca mais frear. Eufemismo para a morte, nu e cru.
E ela, na sua sala enfeitada de flores, o chão acarpetado de pétalas de rosa, desfaleceu, sentiu o aroma de rosa, perfume de rosas, chorou, lembrou que ele não gostava de rosas, mas ela sim. Viu que algumas pétalas se grudaram em seu rosto e fechou os olhos, e num repente vieram a tona todas as memórias, os bons momentos. Todos os momentos de romantismo, de paixão. Não precisavam de nada, nada. Só o momento era crucial, e isso se perdera. Não eram Romeu e Julieta, mas não eram apenas um homem e uma mulher. Para ele, ela era tudo. Ele era também tudo, para ela. Mas ela percebeu, e foi tarde demais.

7 Comentários:

Blogger Marina disse...

Vê se não esquece de me mandar um exemplar do primeiro livro de contos com uma dedicatória hiper especial.

13 de novembro de 2008 às 23:50  
Anonymous Anônimo disse...

minha escritora! haha que coisa mais linda Lucinha :') me fez chorar! abô você, beijo beijo :*

13 de novembro de 2008 às 23:54  
Anonymous Anônimo disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

13 de novembro de 2008 às 23:55  
Anonymous Anônimo disse...

Vê se não esquece de me mandar um exemplar do primeiro livro de contos com uma dedicatória hiper especial. [2] faço minhas as palavras da marina, e eu quero o autógrafo da Milka também! :)

13 de novembro de 2008 às 23:56  
Anonymous Anônimo disse...

óin *-* muito lindo! Como todos os outros né :)

14 de novembro de 2008 às 21:15  
Blogger David Carvalho disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

15 de novembro de 2008 às 03:17  
Blogger Jules disse...

Ótimo!

Passei aqui e precisei deixar um comentário. De fato, esse texto aqui ficou, ao mesmo tempo, simples e complexo. Parabéns!

27 de novembro de 2008 às 21:30  

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