Dancing on the kitchen tiles

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Antebraços Braços (ante)braços

Tinha ela uma tara por mãos e antebraços. As amigas lhe diziam que era uma fixação enganadora. Por quê? Porque de um antebraço forte e moldado poderia se tirar uma conclusão errada e ficar a imaginando um corpo escultural, baseando-se em um simples meio-braço. Mas que fazer? Se antebraços eram sua paixão? Nada. Enganar-se era sua sina. Ao ver das amigas, tirava conclusões precipitadas, mas ela não ligava muito. Por quê? Bom, digamos que, um corpo escultural não lhe despertava interesse. Talvez se fosse o de um fisiculturista, levantador de peso... Do mesmo, lhe chamaria a atenção pelo fantástico, e não pelo belo. Mãos também, ah, as mãos. Gostava de mãos grandes, gostava de mãos um pouco calejadas, que mostravam uma atividade, seja o trabalho pesado, a habilidade com algum instrumento ou o simples hábito de escrever demais. Ao conhecer alguém, antes se deparava com o rosto, claro, óbvio. Logo depois desviava o olhar para as mãos. Não queria medi-las para descobrir o tamanho de outras partes, mas só vê-las e admira-las. Um dia, achou um braço e um antebraço que lhe cabiam perfeitamente, a medida perfeita, o tamanho perfeito, o tônus bem moderado. Amava aquele meio-braço, ah, e como. Adorava o aroma suave que exalava. Pra falar a verdade, muito deixava a desejar no resto, mas ela não tinha tempo para isso, admirar-lhe os dedos já muito lhe consumia. Um dia, para ele, ser admirado por tais atributos se tornou demasiado cansativo, entediante.
- Luísa, me olha nos olhos, por favor?
Ela nem se deu ao trabalho, e aquilo foi a gota d’água. Deixou-a assim, simplesmente. Ela sentia falta do braço (não de todo), das mãos. Procurava outros braços pelas ruas, caía de amores por antebraços estranhos, sentia vontade de tocá-los. Ah, que sina! Andava meio que sem rumo, meio que vagando. Começaram a estranhar, tocava o braço de homens na rua, até de um mendigo uma vez, mas desistiu ao sentir o cheiro forte que as mãos dele exalavam. E na sua busca incansável por seu antebraço-par-perfeito, mão-alma-gêmea, deparou-se com seu antigo amor. Andava na rua distraído, o antebraço belo como nunca, as mãos fortes, viris. Mas quando o seu olhar encontrou o dele, ele sorriu, os olhos lindos, muito mais bonitos do que meros braços, mãos, antebraços. Luísa quis detê-lo, mas ele teve de seguir seu caminho. Ficou ela parada, atônita, sonhando com aqueles olhos, que nunca lhe haviam despertado interesse. Olhos? Como? E os braços? Chegou à conclusão de que: Nos braços se lê a alma? Não. Nos olhos a alma reside, e alma não precisa de braços. Nem de mãos. Nem de antebraços.

4 Comentários:

Blogger dani. disse...

lucy, cada vez fico mais apaixonada pelos seus textos. ele me deixam pensando e sempre chego a mesma conclusão: 'meu deus, como a lu escreve bem!'
parabéns amiga, beeijo

9 de abril de 2009 às 20:49  
Blogger Jules disse...

Não sei se era a intenção - muito menos se é certo ficar perguntando qual a intenção -, mas fiquei rindo alto em diversas passagens do texto.

Sabe como é, coisa de texto excelente.

9 de abril de 2009 às 22:20  
Anonymous Marina disse...

"Nos olhos a alma reside, e alma não precisa de braços. Nem de mãos. Nem de antebraços."
Uau.

10 de abril de 2009 às 03:35  
Blogger mills disse...

gostei também da última frase..
parece meu professor de filosofia (rules)...
muito bom, nhê :D

11 de abril de 2009 às 16:42  

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