Dancing on the kitchen tiles

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Intelecto

Tecia comentários a todo o momento, era insuportável, se queres saber a minha opinião. Sabia tudo, disso tinha certeza, acreditava que sabia todos os segredos do mundo. Sentava-se a mesa e se postava a falar coisas sem sentido, acrescentando vocábulos rebuscados para parecer mais intelectual. Tão intelectual, e tão fútil. Fingia-se blasé, mas não conseguia perdurar, sentia necessidade de simpatia, de humanidade. Mas nunca admitiu, nunca! Ser uma comum. Ser medíocre? Nunca! Tanto fazia que nem mais suportava sua própria intelectualidade. E que intelecto falso, por sinal. Sentava-se em cafés à meia-luz, discutindo questões filosóficas ou dissertando a respeito de um certo teórico do qual nunca ouvira falar. Mas falava bem, falava bonito. Acreditavam nela. Obviamente, ninguém a suportava. Mas possuíam certo respeito por sua superioridade e por seu grande conhecimento. Se existe alguém que sabe falar bem de coisas que não sabe, esse alguém é ela. Ela enganou a mim, que me sentia muito menos na presença dela. Teu intelecto fútil, meu intelecto inútil. Inútil eu me sentia, pois sabia muito, mas não sabia enfeitar minhas palavras e não possuía o talento para a dissimulação. Muitos tique-taques depois, eu, que vivia feliz e aceitando a minha normalidade, vivia bem. Encontrei um dia ela em um banco de praça, imunda e fumante. Tragava como se aquele fosse seu alimento. Ela, que no início nem gostava de fumar, fumava pra fazer pose, para se sentir mais cult. Agora parecia uma cadela, esquecida. Fedia muito, e tinha olhos de louca. Às vezes bradava aos passantes, tecia xingamentos, não mais comentários. Citava poesias, com um drama desnecessário, como se não soubesse mais medir o limite entre o teatro e o exagero. Os passantes não lhe davam ouvidos, e eu fiquei me perguntando mil coisas, olhando pra ela com pena. No fim, toda a sua farsa não lhe adiantara de nada. E tudo que ela queria era ser amada, ser apreciada, no fundo era isso. Pensei que preferia ser eu, pouco brilhante, mas apaixonada por tudo que fazia, do que definhar por não poder ser verdadeiramente genial. Ela queria ser como os ídolos drogados de outras gerações, desculpar a genialidade pelo vício. Mas de que servira tanta ostentação e fingimento? De nada, foi inútil. Posso ser fútil, posso ser limitada e contestável. Mas fingir o Saber é inútil. Meu intelecto, fútil talvez, teu intelecto inútil.


diarréia mental.

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

superou as expectativas heeein! pelo menos as minhas, haha! sempre soube que tu tinha talento, lógico que nem tanto quanto eu em minha performance imitando a cindy lauper, mas tá no caminho! :D meeentira, tu é minha escritora favorita e tá cada vez melhor! :)vai fazer sucesso lá na federal :P hahaha sério, adorei, tá muito bom. beijosmeliga

28 de janeiro de 2009 às 22:55  
Blogger gabrielfleck disse...

uau, superou as expectativas heeein![2]
as minhas também, haha! (H)
sério, tu ta cada vez melhor, gata, amei, bgs.

29 de janeiro de 2009 às 01:32  
Blogger mills disse...

ameeei.
é, vai arrasar na federal mesmo..
acho que vou desistir da idéia de ser jornalista..
comparação inútil, eu sei.
muito bom mesmo, chatê.
beijosmeliga?

2 de fevereiro de 2009 às 00:57  

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